A palestra da Louise McKerrow (Netflix) e do Fernando Ribeiro (GUT) na Semana Caldeira não foi só sobre marketing; foi uma conversa que me tocou profundamente por causa da minha jornada. Eu morei em três países e visitei os cinco continentes, o que me deu uma visão muito clara do que o Brasil tem de único. A grande conclusão deste papo, e que eu defendo: o maior risco hoje é a inação.
Fernando e Louise desmistificaram a criatividade como um dom, tratando-a como uma disciplina que floresce na vulnerabilidade, na agilidade e na estrutura certa.
A Criatividade de Sobrevivência e a Alma Latina
Um dos pontos mais ressonantes da conversa foi a nítida diferença cultural entre a abordagem criativa do Reino Unido e a da América Latina. E isso eu senti na pele ao longo das minhas viagens.
A cultura anglo-saxã (britânica) se baseia em processos, planejamento avançado e um profundo respeito por regras milenares. A estrutura é excelente, mas, muitas vezes, acaba restringindo a criatividade.
Já a nossa cultura, a latino-americana, brilha na fluidez, na espontaneidade e, principalmente, na criatividade para resolver problemas. Eu vejo isso como uma criatividade de sobrevivência. As incertezas e as dificuldades que enfrentamos no Brasil nos forçam a adaptar regras e encontrar soluções imediatas. Nos países mais estruturados, a estrutura é a segurança; aqui, a engenhosidade é o nosso plano de segurança.
A grande sacada que levo da palestra é que o melhor dos mundos é justamente o equilíbrio: preciso usar o rigor do planejamento britânico como uma “escada” – a base estratégica firme – para que a minha fluidez e ousadia brasileira possam dar os “mergulhos mais profundos” e confiantes no risco.
Velocidade Empreendedora e Meu Jeito de Liderar
Para mim, essa criatividade só floresce com dois pilares que eu sempre busco aplicar na Com Lucro:
- Segurança Psicológica: A inovação é inimiga do medo. O líder precisa ser vulnerável. Eu adoto o conceito de que o líder precisa compartilhar intencionalmente as “ideias ruins” primeiro para que o time não se sinta julgado, incentivando o famoso método “Sim, e…” em vez do “Não”.
- Agilidade Extrema: A velocidade é a nova moeda, ponto. O exemplo do Mercado Livre, mudando seu logo para o “toque de cotovelo” em apenas uma hora, mostra que a resposta imediata a momentos culturais é o que nos diferencia. Para isso, o time jurídico tem que ser um parceiro de risco, e não o “guardião de regras” que trava tudo. Minha experiência me ensinou que conseguir a aprovação da pessoa certa, na hora certa, é a nossa maior vantagem competitiva.
O Propósito como Bússola e a Métrica da Conexão
No fim, aprendi que a criatividade só tem valor quando serve a um propósito claro.
- A Inovação Moonshot (a busca por projetos 10x) é vital, mas ela precisa ser separada da operação diária para não ser sufocada pelas métricas de eficiência.
- O Propósito é o Norte Estratégico: A frase “O Melhor Está Chegando” do Mercado Livre virou a filosofia da empresa, garantindo que cada esforço criativo estivesse alinhado com a democratização do comércio.
Na Netflix, a métrica final do sucesso não é o ROI tradicional, e isso é genial: eles focam na geração de conversas. O sucesso de um título é medido por quantas pessoas o estão discutindo e pelo seu impacto na cultura. Afinal, a criatividade, em sua essência mais humana, se traduz em conexão e, para eles, em retenção de assinantes a longo prazo.
Em suma: a capacidade criativa humana é a minha maior certeza na era da IA, mas ela só se materializa com agilidade estratégica, um ambiente seguro e a coragem de assumir o risco de errar.
Conrado Rosa